Meu livro, tem cheiro de tinta
E marcas de todas as mãos
Resquícios de quem o teve
Juntinho do coração
Circuitos, magnésio e plástico
Máquina, de corpo inteiro
O meu kindle é inodoro
E tudo, na vida, tem cheiro
Meu livro me espera, sempre
Por um ano ou por um dia
Meu kindle, também me espera
Mas, descarrega a bateria
Descarregado, o meu kindle
É só uma caixinha preta
Ficam lá, montes de livros
Sem a chave da gaveta
Dure o que durar, a leitura
Meu livro, não exige nada
O kindle, exige, no mínimo
Wi-fi e uma tomada
Meu livro, pode circular
E até não voltar mais
O kindle não, não tem seguro
E custa quinhentos reais
O jamegão do autor
Na página dois, está lá
No kindle, não teve jeito
Não tem como autografar
Na página seis, uma flor
Com um bilhete, guardada
Mata meu kindle de inveja
Que flor, só tem desenhada
No mato, onde me entoco
Não tem luz, nem wi-fi
O meu livro, me acompanha
Onde o kindle, nunca vai
Esqueci, meu livro, no trem
Furtaram-me, o kindle, depois
Já se passaram alguns meses
Não vi mais nenhum dos dois
Claro que há outros livros
Como outros kindles, há
Lágrimas, porém, pelo meu
Não consigo derramar
Eu sou do tempo que livro
Espero que me consinta
Que livro, mesmo, de verdade
Tinha cola, papel e tinta

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