Ele é do tempo Em que macho, macho mesmo, batia na mulher E a elas só restava recorrer, a Deus e a sua fé Porque ninguém socorria, ninguém metia a colher
Ele é do tempo De mulheres sem direitos, nem sobre o próprio nariz Em que o marido, ditador inato, era a lei e o juiz Bem antes, muito antes, de nascer Leila Diniz
Ele é do tempo Em que a justiça, excelências, data venia Antes da voz machucada, de dona Maria da Penha Ignorava, criminosamente, qualquer fêmea
Ele é do tempo Em que fidelidade, obrigatória, só para elas Legítima defesa, não valia, para a honra delas Tempos de pilotas, de fogões e de panelas
Ele é do tempo Em que elas não ousavam, sequer, um batom vermelho Pouco tinham para fazer, diante do espelho E vestidos, calças nunca, só abaixo do joelho
Ele é do tempo Em que mulher, casava-se sob encomenda Em que os pais, colocavam as filhas à venda Ofertando-lhes a virgindade, como prenda
Ele é do tempo Em que mulher, aos 30, era chamada de vó Paria um filho todo ano e os criava quase só E morria, ensejando às filhas, um mundo menos pior
Ele é de um tempo Medonho, esquecido, em algum lixão do passado Mas, que vez ou outra ressurge, nos deixando horrorizados Atiçando a discussão: somos, mesmos, cidadãos civilizados?
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